21 novembro 2009

Porque negam os deterministas radicais a liberdade?


O problema acerca da existência de liberdade humana pode ter a seguinte formulação preliminar. Os desejos e crenças de uma pessoa (o seu comportamento, portanto) é causado por coisas que estão fora do seu controle. Não escolheu livremente os seus genes ou a sequência de circunstâncias em que cresceu. Se não os escolheu livremente, porquê afirmar que o seu comportamento provém de uma escolha livre da sua parte? Como tornar essa pessoa responsável por acções causadas por acontecimentos sobre os quais não detém qualquer controle? Essa pessoa não parece mais livre do que um computador; sucede que um computador age como age porque foi programado para o fazer.
Outra maneira de encarar o problema consiste em notar uma característica presente no quadro causal acima indicado. Suponha-se que o nosso comportamento é o produto das nossas crenças e desejos tal como o comportamento do computador resulta de um programa. Há uma característica da situação em que o computador se encontra que parece caracterizar a situação em que nos encontramos. Conforme o programa, o computador pode comportar-se de maneira diferente. Suponha-se que alguém programou um computador para somar dois números. Isto significa que se os dados de partida forem 7 e 5, o resultado só pode ser 12. O computador não pode agir de outra maneira.
Será que, a este respeito, somos como os computadores? Dados os desejos e crenças que actualmente temos, não será inevitável que façamos precisamente o que fazemos? As nossas crenças e desejos deixam em aberto o que fazemos tanto quanto um programa de computador deixa em aberto o que o computador é capaz de fazer. Este facto acerca do computador — e acerca de nós próprios caso sejamos como o computador — parece implicar que não somos livres. A razão é que se uma acção foi praticada livremente, seria possível ao agente agir de modo diverso. Se é livremente que levo aos lábios uma chávena de chá, deveria ter sido possível não o fazer. Mas, dadas as minhas crenças e desejos, não podia ter deixado de levar aos lábios a chávena de chá. As nossas acções são as consequências inevitáveis das mentes que possuímos, como o comportamento do computador é a consequência do seu programa. (...)

Elliot Sober



Tradução de Paulo RuasCore Questions in Philosophy (Prentice-Hall, 2001).



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