A notícia de que Sócrates vai estudar Filosofia para Paris durante um ano surpreendeu muitos e surpreendeu-me também a mim. Mas foi uma boa notícia. Considero que muitos outros políticos lhe deveriam seguir o exemplo. Como profissional de uma das áreas de conhecimento mais antigas na história da humanidade reconheço que, quer a nível pessoal quer a nível da organização social e política muito teríamos a ganhar se houvesse uma aposta alargada e melhor estruturada na formação filosófica no nosso sistema de ensino. Somos, diz-se, um povo de brandos costumes e isso é bom, mas também somos um povo acrítico e isso é mau. Somos um povo pouco autêntico, um povo que valoriza mais o “ter” do que o “ser”, que pensa pouco. Formamos muitos jovens que dominam habilmente as novas tecnologias mas são incapazes de formular e expressar um raciocínio crítico devidamente estruturado sobre o melhor ou o pior sistema económico ou político ou sobre os fundamentos de uma decisão política, empresarial ou pessoal. É a geração do “Porque sim!”, educada por outras gerações que não tiveram a oportunidade de aprender filosofia ou que viveram amordaçadas sob o signo do medo. Ora a formação filosófica pode dar um importante contributo para a mudança. Porque em filosofia aprende-se que não há teorias filosóficas, económicas, políticas ou científicas absolutamente certas ou erradas e que, por isso, o importante é procurar boas razões/argumentos apoiados no conhecimento adequado dos problemas e no testemunho dos grandes pensadores para aceitar ou recusar determinadas teorias. Em Filosofia aprende-se que uma vida autêntica e com sentido exige uma tomada de posição esclarecida e apoiada em bons argumentos. Aprende-se que a verdade é uma meta inalcançável e que, por isso, teremos que ser permanentemente críticos e curiosos. Em filosofia pergunta-se mais do que se responde, aprende-se a encarar a dúvida não como uma atitude de fraqueza mas um sinal de sabedoria. E já agora, em filosofia, entre outras coisas, aprende-se que todos os homens são iguais, que o homem é um fim em si mesmo e não um meio e que a dignidade humana é um carácter essencial e intrínseco a qualquer ser humano. Ora, se quem nos governa e quem elege quem nos governa pensasse assim, o mundo e o país estariam bem melhores. José Saramago numa entrevista concedida ao Expresso, dizia, com alguma autoridade que “na sociedade actual nos falta filosofia. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar e parece-me que sem ideias não vamos a parte nenhuma.”
E não vamos mesmo, digo eu.
3 comentários:
Grande Saramago, Grande Professor Cortinhas...
Obrigado, Sr Tabarish e felicidades aí para o Afeganistão.
Abraço
Muito bom artigo. Parabéns. Que a filosofia continue e dar os seus frutos.
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