«Pensar», respondi eu. Franziram o nariz. Perguntavam-me se veria algum caminho para a resolução das crises que nos assolam. As crises que por aí andam a torturar-nos a felicidade são de índoles várias. Temos a crise de valores, a crise económica, a crise política, a crise de fé, a crise de afectos. Todas elas estão relacionadas entre si e conspiram para nos atazanar o juízo. Daí, talvez que a urgência da pergunta esperasse da resposta uma solução concreta, prática, rápida.
A minha resposta era o oposto. Não por embirração, mas por convicção. Estará subvalorizada a importância do pensamento crítico, estruturado e criativo na resolução dos problemas que nos afligem. Talvez se deva ao ritmo frenético a que vivemos e que obriga à tomada de decisões imediata, que resulta, frequentemente, numa tomada de decisões irreflectida. Haverá, pois, quem valorize mais a acção, mas tenho para mim que acção sem pensamento que a sustente é tão estéril quanto o pensamento que não gera acção.
(...)
O importante é deixarmos as certezas que tínhamos de lado e darmo-nos à interrogação. Não o poderemos fazer sozinhos, claro. Devemos acompanhar-nos de bons mestres. Os mais importantes são os livros. Mas todas as formas artísticas ajudam a desarranjar a mente para que a possamos voltar a arranjar depois. Será por isso que os inimigos do livre pensamento tanto tentam apequenar as artes e a cultura.
(Parte de texto de Ana Bacalhau publicado no Diário de Notíciasi)
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