06 março 2008

Argumentação, Verdade e Ser

A argumentação, além das utilidades que já estudámos, serve ainda um outro fim muito importante: serve para pôr à prova as ideias que temos e fazer avançar o conhecimento. Dada a dificuldade humana em encontrar a verdade, o confronto de ideias (argumentos) e a possibilidade de os nossos argumentos poderem ser refutados leva-nos a ter de fundamentar bem as nossas teses, logo, a ser cautelosos quanto ao que afirmamos.
É certo que nem sempre as pessoas estão interessadas em defender a verdade, seja por ignorância, seja por má vontade. E isto leva a disputas e a controvérsias que ocorreram já na Grécia antiga entre sofistas e filósofos, como se pode ver no diálogo Górgias, onde Platão põe Sócrates a discutir e ridicularizar os seus adversários de debate. E a razão dessa divergência é agora fácil de compreender: enquanto para os sofistas qualquer tese (opinião) era, em princípio defensável, para Platão só o verdadeiro conhecimento era digno de ser defendido. Para isso, era necessário que Platão tivesse uma teoria consistente sobre a verdade, o conhecimento, a realidade, etc.
Com efeito, tinha; e é uma teoria de tal modo consistente que tem sido respeitada ao longo dos séculos. Um filósofo do séc. XX, famoso matemático e colega de trabalho de Bertrand Russel, de seu nome Whitehead, disse que «a filosofia ocidental são notas de rodapé na Filosofia de Platão».
Qual é essa teoria? Resumidamente podemos dizer que a filosofia de Platão faz duas grandes distinções, correlativas uma da outra, entre o plano ontológico (ser) e o plano gnosiológico (conhecimento). Distingue, por um lado, entre a ilusão (mundo visível) e a realidade (mundo inteligível), e, por outro, entre o erro (opinião) e o conhecimento (sofia).
Segundo Platão, há vários níveis de realidade (uma sombra é menos real do que um objecto físico, e este é menos real do que uma forma pura), e uma suposição é menos «verdadeira» que uma crença; do mesmo modo, uma crença é menos verdadeira do que um conhecimento científico. Para este filósofo, a investigação começa pela recusa do mundo aparente (que é construído em nós a partir das informações fornecidas pelos sentidos), e pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais que nos permitam «ver» um mundo invisível aos sentidos: um mundo inteligível, só visível à razão. Este caminho de descoberta é simultaneamente um caminho de auto-aperfeiçoamento do indivíduo e um caminho de descoberta da realidade.O conhecimento da verdade é, afinal, o conhecimento da realidade, de tal modo que verdade e realidade acabam por ser sinónimos.
A realidade é, então, segundo Platão, formada pelas estruturas inteligíveis (racionais) da realidade, por aquilo que faz com que a matéria dos objectos obtenha uma determinada organização. Os próprios objectos, a que teríamos a tentação de chamar «reais», seriam apenas «cópias» desses modelos a que ele chamou eidos ou formas puras e só poderiam ser vistos através da clara visão da razão.
Isto não significa que Platão se desinteressasse dos assuntos mais «mundanos» da cidade onde vivia. Daí que nas suas obras encontremos muitos diálogos sobre a justiça e a organização da cidade, o melhor tipo de governo, etc. O que acontece é que as preocupações de Platão com a Política, com o Conhecimento, com a Moral, com arte, etc., tinham sempre como objectivo criar condições para a descoberta da verdade e para a prática do Bem. Para Platão, o Bem é o aperfeiçoamento dos seres humanos através do desenvolvimento da consciência e da Ciência.
Isto faz aumentar a responsabilidade do sábio: uma vez que conhece, tem também o dever de ajudar os seus irmãos humanos a libertar-se da ignorância. Platão considerava que «o rei deveria ser filósofo e o filósofo deveria ser rei» porque, acima de tudo, o governo da cidade (a política) deveria ser dirigido por pessoas sábias. É neste contexto que se devem tentar compreender as discussões sobre a retórica, e as críticas que Platão dirigiu aos sofistas, pois, para ele, nem todas as opiniões são defensáveis, e a argumentação deve estar ao serviço de um ideal mais elevado, fundamentado num conhecimento verdadeiro do que é a realidade e de quais são os fins que dão sentido à existência humana.
É também por isso que Platão é um autor que ainda hoje pode ajudar-nos a pensar em que sentido e para que fins devemos nós, humanos do séc. XXI, utilizar a técnica e a Ciência.

705 Azul, Vários autores, Texto Editora

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom Platão um ser como outro qualquer, como eu como você. Mas PLatão expõe sua filosofia, sua intuição sobre a realidade. Não podemos negar que Platão esta acima de alguns seres humanos.
Mas que o textos de Platão deveras foram mudados isso foram. Para se controlar massas certas indormações originais não são expostas ao ser, a fim de que não cause o CAOS. A balança precisa ser controlada. Mesmo que para isso tenha que esconder certas verdades.

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