12 novembro 2008

Billy Elliot

Billy Elliot tem um grande sonho: o de dançar. Apesar do seu pai, um mineiro de Durham, insistir para que o filho aprenda lições de boxe, actividade para a qual este não tem especial jeito.
Este é mote para uma história interessantíssima cujo enredo se situa num bairro operário inglês, durante o período de greves gerais da Inglaterra em 1984.

Da crítica familiar à pressão social da comunidade, Billy tudo enfrenta para realizar o seu sonho de pertencer ao Royal Ballet.´

Em que medida este filme nos remete para o "processo de socialização", para o papel dos "agentes de socialização" e "conflitos entre agentes de socialização", para a questão da "integração social" e dos "mecanismos de controlo social"?

21 outubro 2008

A ciência está a tornar-nos biónicos?

João Pereira, de 32 anos, amputado da mão esquerda, é desde esta segunda-feira o primeiro português com uma mão biónica, ou seja, uma mão eléctrica que lhe permitirá, depois de «muito treino e paciência», realizar movimentos com todos os dedos.
A mão biónica entregue a João Pereira, distingue-se das restantes próteses eléctricas convencionais por permitir "o movimento harmonioso de todos os dedos da mão e a rotação do polegar". Foi desenvolvida por um grupo de investigadores escoceses, sendo composta por cinco motores independentes -um por cada dedo da mão. Cada dedo pode suportar até oito quilos e a mão permite dobrar, tocar, apanhar e apontar, aproximando-se dos movimentos da mão humana. Os gestos da mão são possíveis graças a placas de eléctrodos que detectam sinais eléctricos gerados nos músculos remanescentes do membro amputado.

14 outubro 2008

A ciência é imparcial?

Poderá a investigação científica ser realmente imparcial? A resposta óbvia é que não pode ser inequivocamente imparcial porque a ciência é feita por seres humanos e instituições humanas, que estão sujeitos à habitual cegueira facciosa.Mas há uma grande, uma imensa diferença entre ver que a ciência, como tudo o resto, não pode ser inequivocamente imparcial, e celebrar esse facto alegremente. Isto é o primeiro passo para o totalitarismo; se tudo é inequivocamente faccioso, até a ciência, então eu tenho o direito de defender com unhas e dentes os meus interesses, que têm uma vantagem final que nenhuns outros interesses têm: são meus. Por outro lado, qualquer análise superficial das instituições científicas mostra que estas estão em parte feitas de maneira a contrariar a parcialidade e a procurar a máxima objectividade (leia-se em português, a este respeito, o prólogo de Jorge Buescu do seu livro O Mistério do Bilhete de Identidade). Fingir que não há diferença entre as instituições científicas e as religiosas, por exemplo, só pode ser fruto de confusão mental ou do tipo de facciosismo cego que está na moda imputar à ciência.Precisamos de estar vigilantes, de procurar a verdade das coisas, de denunciar a mentira, a prostituição da ciência para fins políticos e ideológicos. E nesta tarefa nada nos ajuda a declaração sofística, baseada em imaginadas autoridades filosóficas, de que tudo é inequivocamente faccioso e que a objectividade é um mito. Argumentar que X não existe porque não existe um X puro é o tipo de falácia contra a qual temos de estar precavidos, pois é dela que nasce a ideia pós-moderna de que devemos celebrar a ideologização da ciência, da filosofia, da história e talvez até das quecas. Do facto de ninguém ser puramente bom, não se segue 1) que não há pessoas boas, e umas mais que outras, nem 2) que devemos celebrar a maldade, a inveja, a perversidade e a pura manipulação desavergonhada, nem 3) que não devemos procurar ser boas pessoas, dentro das nossas muito humanas limitações.

Desidério Murcho,

publicado em De Rerum Natura

A verdadeira forma do Silogismo Aristotélico - Texto de Apoio

10 outubro 2008

Vídeos Filosofia


No youtube pode encontrar alguns vídeos sobre Filosofia. A série brasileira "Ser ou não ser", produzida para a TV, embora não apresente boa qualidade técnica, no entanto é interessante sob o ponto de vista pedagógico.

Veja este exemplo sobre Platão:


04 junho 2008

O Poder e os Riscos da Ciência - uma questão de equilíbrio

Com o passar dos séculos, o crescente desenvolvimento e evolução científicos levaram-nos à criação de uma cultura científico-tecnológica da qual, o ser humano de hoje, é incapaz de se afastar.
O que seria do homem dos nossos dias se tivesse de viver sem telemóvel, computador, televisão, meios de transporte, etc., ou mais drasticamente, o que seria do homem sem laboratórios, medicamentos…?
Nos nossos dias é quase impossível falarmos em sociedade sem pensarmos em todos estes conceitos, pois, eles estão de tal maneira interiorizados nos nossos hábitos de vida, que criaram uma nova cultura, toda ela dependente da ciência e da tecnologia.
Numa época de grandes descobertas e avanços cientifico-tecnológicos como a dos últimos séculos, desde a obtenção da energia à substituição do ser humano pelos mais especializados equipamentos, desde o desenvolvimento da genética e da biologia, o que nos leva a tornar possível prevenir e curar diversas doenças, à descoberta da fertilização “in vitro”, de medicamentos, entre outras, podemos afirmar, quase sem quaisquer dúvidas, que a ciência nos trouxe melhor qualidade de vida, e que tornou o mundo muito mais próximo. No entanto, é preciso não esquecer que nem tudo são rosas e que as rosas têm espinhos, pois, a ciência também pode destruir. O desenvolvimento científico é responsável por problemas relacionados com o equilíbrio e conservação da natureza (excessivas emissões de poluentes para o ambiente que provocam alterações climáticas…, produção industrial desenfreada…). Por exemplo, Fritz Haber, prémio Nobel em 1918, veio-nos mostrar, que o amoníaco, tanto pode ser utilizado para o fabrico de fertilizantes, como para o fabrico de armas de enorme potencial destrutivo. Certas descobertas, como as utilidades do petróleo, podem não só destruir o planeta, como também destruir o próprio homem, despoletando guerras.
O imenso poder alcançado pelo Homem através da ciência pode, assim, levá-lo ao triunfo ou à sua destruição.
Porém, a ciência está limitada pelos governos dos países, pois se não existirem verbas suficientes para a investigação, esta não poderá ser efectuada. Os governos não são apenas responsáveis pelas verbas, mas também pelo acesso dos seus governados aos avanços científicos. Há alguns séculos atrás, não só os governos eram os responsáveis pelo atraso da evolução científica, mas também a religião tinha um papel importantíssimo neste campo, pois era ela que regia toda a sociedade, e devido a ela, muitos cientistas tinham medo de revelar as suas teses.
Deste modo, na minha opinião, não devemos optar pelas posições extremistas de total renúncia à ciência ou de total aceitação das possibilidades que o progresso científico nos tráz, mas sim, optar por uma posição de equilíbrio, utilizando a racionalidade do ser humano, em escolher apenas o bem para nós e também para o planeta, pois, os saberes científico-tecnológicos são uma condição necessária ao desenvolvimento, mas não suficiente.

Rita Gomes

11ºB


Bibliografia:

· “Um outro olhar sobre o mundo”, vol.2, 11º ano; Edições ASA - 2007; Abrunhosa, Maria Antónia; Leitão, Miguel;
· “Eu e a Química”, 11º ou 12º ano; Porto Editora – 2007; Maciel, Noémia; Gradim, Maria Manuela; Campante, Maria José;
· https:/.../mkn57/WWW/Home%20Pic%202.jpg
· Diciopédia 2005
· http://www.oei.es/revistactsi/numero7/articulo02b.htm

01 junho 2008

O que dizem os outros blogs de filosofia?

Espanha defende Filosofia
A plataforma em defesa da filosofia prepara mais uma manifestação para o próximo sábado dia 31 (de Maio 08) na porta do sol, no centro de Madrid. As reivindicações dirigem-se essencialmente aos Conselhos de Educação das Comunidades de Madrid e Castilla-La Mancha e centram-se num aumento de carga horária a fim de serem leccionados os temas considerados cruciais nesta disciplina. O manifesto pode ser lido aqui e o abaixo-assinado acedido aqui.

http://telegrapho.blog.pt/

14 maio 2008

Ciência e Pseudociência - Texto de apoio- clica aqui


O valor cognitivo de uma teoria nada tem a ver com a sua influência sobre a mente das pessoas. A crença, a adesão e a compreensão são estados da mente humana. Mas o valor científico e objectivo de uma teoria é independente da mente humana que a concebe ou compreende. O seu valor científico depende apenas do suporte objectivo que essas conjecturas encontrem nos factos.

06 maio 2008

Ciência e Senso Comum - texto de apoio. Clica aqui

Dicionário Escolar de Filosofia on line

Publicado em 2003 pela Plátano Editora, e entretanto esgotado, este dicionário está agora integralmente disponível na Internet: www.defnarede.com. Sendo de acesso gratuito, este site permanecerá gratuito e disponível mesmo depois de ser publicada em papel a nova edição revista e aumentada do dicionário, prevista para Setembro de 2008.

12 abril 2008

Conhecimento "a priori" e "a posteriori"

O conhecimento a posteriori e a priori são modalidades epistémicas. Uma proposição é conhecível a priori se, e só se, pode ser conhecida sem o concurso da experiência empírica. Assim, 2 + 2 = 4 é uma proposição conhecível a priori porque posso conhecê-la recorrendo unicamente ao pensamento. Mas para saber que a água é H2O tenho de me socorrer da experiência empírica — não posso fazê-lo recorrendo unicamente ao pensamento. Dada a definição de analiticidade [uma frase é uma verdade analítica se, e só se, o significado das palavras que nela ocorrem e a sua sintaxe for suficiente para saber que é verdadeira], é fácil perceber que todas as frases analíticas exprimem proposições conhecíveis a priori. Pois se para saber o valor de verdade de uma frase analítica basta reflectir sobre o significado das palavras e a sintaxe da frase, isso significa que não é necessário recorrer à experiência empírica para identificar como verdadeira a proposição expressa.
Todo o conhecimento proposicional é uma relação entre um agente cognitivo e uma proposição que é por ele conhecida. Logo, também o conhecimento a priori é uma relação entre um agente cognitivo e uma proposição que é por ele conhecida. Assim, um modo mais rigoroso de definir conhecimento a priori é o seguinte:
Uma dada proposição é conhecível a priori por um dado agente cognitivo se, e só se, esse agente pode conhecer essa proposição sem recorrer à experiência empírica.
Posto isto, considere-se as seguintes duas frases:
1) Se Sócrates era um ser humano, era um ser humano.
2) Sócrates era mais pesado do que Platão.
Os recursos envolvidos para poder conhecer o valor de verdade destas frases diferem substancialmente. No primeiro caso, basta raciocinar; no segundo, é preciso recolher informações históricas sobre Sócrates e Platão. No primeiro caso, o agente cognitivo limita-se a pensar; no segundo, é preciso consultar documentos, testemunhos e estudos.
No entanto, para que alguém saiba que a primeira frase é verdadeira tem de compreender as palavras que nela ocorrem. Se um polícia chinês que nada saiba de português for confrontado com uma inscrição desta frase num bloco de notas de um presumível assassino, terá de consultar dicionários e gramáticas, ou falar com pessoas que saibam português. Só depois desta actividade empírica poderá o polícia chinês perceber que a frase é verdadeira. Todavia, isto não impede a frase 1, que exprime uma verdade lógica elementar, de ser conhecível a priori.
O conhecimento do significado das palavras, apesar de claramente empírico, não torna a frase 1 unicamente conhecível a posteriori. Continua a existir uma diferença crucial entre o tipo de experiência necessário para determinar o valor de verdade das frases 1 e 2. O conhecimento necessário para determinar o valor de verdade da frase 1 é meramente linguístico; o conhecimento necessário para determinar o valor de verdade da frase 2 é extralinguístico.
A experiência empírica necessária para compreender o significado das palavras não conta. Esta decisão não é arbitrária. Para determinar o valor de verdade de qualquer frase, seja ela qual for, é necessário ter um conhecimento, que terá de ser empírico, do significado das palavras envolvidas. Logo, se não aceitássemos a nossa decisão, a categoria do conhecimento a priori ficaria vazia. No entanto, é óbvio que há uma diferença substancial entre saber que se Sócrates era mortal, era mortal e saber que Sócrates era mais pesado do que Platão. No primeiro caso não temos de possuir qualquer informação factual além da linguística; no segundo, a informação linguística, só por si, não é suficiente para determinar o valor de verdade da frase. Logo, há uma distinção que deve ser mantida e que corresponde à divisão tradicional entre conhecimento a priori e conhecimento a posteriori.
Há uma excepção adicional. As verdades da aritmética e da lógica são, tipicamente, susceptíveis de ser conhecidas a priori. No entanto, podemos ser incapazes de determinar por puro raciocínio que uma fórmula como {(p v q) Λ [(p ® r) Λ (q ® r)]} ® r é logicamente verdadeira. Para determinar o valor de verdade desta fórmula, podemos ter de fazer uma tabela de verdade. Todavia, o conhecimento assim obtido é ainda a priori. Fazer uma tabela de verdade é uma mera extensão da capacidade de cálculo; nada diz sobre o mundo para além da tabela de verdade. Apesar de podermos ter de recorrer a papel e lápis para realizar alguns cálculos complexos, como equações ou fórmulas lógicas complexas, o resultado é conhecido a priori.
A teoria tradicional do a priori
Na tradição filosófica há aparentemente a ideia de que o que é conhecido a priori por um agente, não poderia ter sido conhecido a posteriori por esse agente. Kripke argumenta que esta ideia está errada. Os exemplos são muito simples: apesar de eu poder saber a priori que a soma de 2345 com 12445 é 14790 — porque posso fazer um cálculo mental —, posso também conhecer a posteriori este resultado, através de uma calculadora, ou perguntando a alguém que tenha feito o cálculo.
(…) Como vimos, o conhecimento é uma relação entre agentes cognitivos e proposições; logo, as proposições não são primitivamente a priori ou a posteriori — o que elas são é susceptíveis de serem conhecidas a priori ou a posteriori. A distinção pode parecer menor, mas é crucial para evitar confusões. Uma mesma proposição pode ser conhecida, pelo mesmo agente cognitivo ou por diferentes agentes cognitivos, de maneiras diferentes. Por exemplo, na escola, o meu professor pode ensinar-me o teorema de Pitágoras. O teorema foi por mim conhecido a posteriori. Mais tarde, depois de aprender mais geometria, posso demonstrar por mim mesmo o teorema; e quando faço isso passo a ter um conhecimento a priori do teorema. Mas há casos em que isto não pode acontecer; na escola aprendi também que Sócrates foi condenado à morte. Mas, por mais que pense, nunca poderei estabelecer a priori que isso é verdade.
(…)
Os filósofos tradicionais não mostraram qualquer interesse no facto de uma proposição conhecível a priori ser também conhecível a posteriori porque talvez estivesse subentendido que estavam a falar unicamente de «conhecimento primitivo». Neste sentido, o teorema de Pitágoras, por exemplo, é conhecível a posteriori, mas não é primitivamente conhecível a posteriori; no princípio da cadeia causal do conhecimento, alguém teve de conhecer a priori o teorema de Pitágoras para depois o poder transmitir a posteriori a outra pessoa. Podemos assim dizer que apesar de as verdades conhecíveis a priori serem derivadamente conhecíveis a posteriori, nenhuma verdade conhecível a priori é primitivamente conhecível a posteriori.

Desidério Murcho

08 abril 2008

Conhecimento como crença justificada

O leitor tem várias crenças.

Mas qual das suas crenças é conhecimento, se é que alguma o é?
O que é o conhecimento?




O conhecimento não é mera crença. Se o leitor acreditar e afirmar que sabe algo e alguém acreditar e afirmar que sabe o oposto, então pelo menos um de vós tem de estar enganado. Quando duas pessoas acreditam em coisas contraditórias não podem ambas saber aquilo que afirmam saber. Pois uma das duas crenças tem de ser falsa. Acreditar meramente em algo, não importa quão ardentemente, não faz disso uma verdade. Para que se saiba algo, não temos somente de acreditar nisso; isso também tem de ser verdade. Mas será isto tudo o que é requerido? É o conhecimento mera crença verdadeira?
Suponha-se que alguém aposta regularmente em cavalos. Ele tenta sempre apostar em vencedores, mas raramente o faz. Contudo, está tão cheio de ilusória autoconfiança que sempre que faz uma aposta acredita ardentemente que o seu cavalo vai ganhar. Nas raras ocasiões em que o cavalo ganha, saberia o apostador que o cavalo dele iria ganhar? Claro que não. Ele poderia sentir-se completamente confiante, mas isso é outra história. Para se saber algo, não se pode apenas adivinhá-lo, mesmo que se acerte, e não o sabemos por maior que seja a confiança que depositamos no nosso palpite. Assim, que mais é necessário para o conhecimento, além da crença verdadeira?
Não será ter provas a resposta? Isto é, para o leitor ter conhecimento não precisará de estar conectado com a verdade daquilo em que acredita através das provas ou razões que tem para acreditar nisso? E não terão essas razões ou provas de ser adequadas para justificar a sua crença? O que torna implausível dizer que o apostador tem conhecimento mesmo que aposte num cavalo vencedor é que ele não tem boas razões ou provas para pensar que o cavalo em que ele aposta irá ganhar. Em vez disso, o apostador ganha por sorte.
Mas o que é que são provas? Quando são as provas adequadas? Estas são perguntas difíceis. Para não nos desviarmos do nosso problema, pressuponha-se para efeitos de discussão que sabemos o que faz de um pedaço de informação uma prova a favor de uma certa crença. Pressuponha-se também que sabemos qual a quantidade de provas necessárias para sustentar adequadamente uma crença. E ao pressupor que sabemos esta última coisa, não elevemos demasiado as nossas exigências. Em vez de pressupor que para as provas serem adequados para o conhecimento terão de estabelecer conclusivamente a verdade da crença que suportam, pressuponha-se que as provas são adequadas quando tornam, nas circunstâncias em que existem, a verdade de uma crença mais provável do que o seu contrário. Se estes pressupostos estiverem errados, podemos sempre reformulá-los mais tarde. Aceitando-os por agora irá simplificar as questões e ajudar-nos a manter-nos na direcção certa.
O conhecimento pode ser mais (ou menos) do que mera crença suportada por provas adequadas. Mas se o conhecimento for pelo menos isso, então uma das coisas que devemos perguntar às nossas autoridades é que provas têm elas para as coisas que afirmam saber. E uma das coisas que temos de perguntar a nós próprios, quando aceitamos certas pessoas como autoridades, é que provas mostram que essas pessoas são competentes e fidedignas.

Daniel Kolak e Raymond Martin
Tradução de Célia Teixeira
Sabedoria sem Respostas: Uma Breve Introdução à Filosofia,
Temas e Debates, Lisboa, 2004, pp. 51-52.

31 março 2008

O Caso do Pintor que não via cores

Quando o vimos pela pri­meira vez, a 13 de Abril de 1986, Jonathan L. era um homem alto e muito magro, que evidenciava uma recente perda de peso. Exprimia-se com facilidade, de uma forma inteligente, analítica e viva, mas num tom de voz baixo e sem vida. Raramente sorria; estava manifestamente deprimido. Captá­mos um sentimento de mágoa interior, de medo e tensão, refreado com dificuldade por detrás do seu discurso civilizado.
Contou-nos que o acidente tinha sido acom­panhado por uma amnésia passageira. Claro que ele, naquela altura - ao fim da tarde de 2 de Janeiro -, fora capaz de rela­tar devidamente à polícia o que se tinha passado. Seguira depois para o seu estúdio, para se encontrar com alguém que estava interessado no seu trabalho, mas abreviou este encontro devido a uma crescente e intensa dor de cabeça. Quando chegou a casa, queixou-se à mulher de dores de cabeça e de se sentir confuso, mas não mencionou o acidente. Caiu então num longo e quase letárgico sono. Só na manhã seguinte, quando viu o radiador do seu carro amolgado, é que a mulher lhe per­guntou o que se tinha passado. Ao não obter uma resposta clara ("Não sei. Talvez alguém lhe tenha batido"), ela percebeu que se devia ter passado algo de grave.
Jonathan I. foi em seguida para o estúdio e encontrou, em cima da secretária, uma cópia do relatório feito pela polícia sobre o acidente. (...) Mas, ao pegar nele, não conseguiu ler nada. Via caracteres de diferentes tama­nhos e formas, todos nitidamente, mas parecia-lhe "grego" ou "hebraico". (...) (Esta alexia, ou incapacidade de ler, durou cinco dias, mas depois parece ter desaparecido.)
Apercebendo-se de que devia ter sofrido um traumatismo, ou qualquer espécie de lesão cerebral provocada pelo acidente, Jonathan I. telefonou ao médico, que conseguiu que ele fosse visto e fizesse exames num hospital local. Embora, como nos dizia na sua pri­meira carta, tivesse sido detectada nesta altura a dificuldade em distinguir as cores, juntamente com a enorme alexia, ele só teve consciência da alteração das cores no dia seguinte.
Nesse dia, decidiu ir de novo trabalhar. Parecia-lhe estar a conduzir através de nevo­eiro, (...) tudo parecia enevoado, descorado, acinzentado, indistinto. O desnorteamento e medo transformaram-se então num senti­mento de horror. Já perto do estúdio, a polí­cia mandou-o parar: disseram-lhe que tinha passado dois sinais vermelhos. Se tinha reparado nisso? Não, respondeu ele, não se tinha sequer apercebido de ter passado por nenhum semáforo. Mandaram-no sair do carro. Após verificarem que estava sóbrio, mas aparentemente baralhado e doente, "multaram-no e aconselharam-no a procurar um médico.
Jonathan I. chegou ao estúdio aliviado, esperando que a terrível névoa tivesse já passado, que tudo estivesse de novo nítido. Mas, assim que entrou, achou todo o seu estúdio - cujas paredes estavam decoradas com os seus quadros coloridos - completa­mente cinzento e destituído de cor. (...)
Ao horror juntou-se o desespero: nem sequer a sua arte tinha significado, e ele já não conseguia imaginar como continuar.
As semanas que se seguiram foram extre­mamente difíceis. Jonathan I. mal conseguia suportar a mudança no aspecto das pessoas ("eram o estátuas cinzentas animadas"), tal como não conseguia suportar a sua própria ­aparência quando se via ao espelho: evitava as relações sociais, e as relações sexuais tornaram-se impossíveis. Via a pele das pessoas, a pele da mulher, a sua própria pele, de um cinzento horrendo: a "cor-de­-pele" era agora, para ele, "cor-de-rato". (...)
Achava os alimentos repugnantes, com aque­le aspecto acinzentado e morto, e tinha que fe­char os olhos para con­seguir comer. Mas isso não ajudava muito, porque a sua representação mental de um tomate era tão negra como a sua aparência. (...)
Assim, incapaz de rectificar mesmo a ima­gem interior, a ideia, de diversos alimentos, Jonathan foi-se virando progressivamente para alimentos brancos e pretos - azeitonas pretas com arroz branco, café preto e iogurte. Estes, pelo menos, tinham um aspecto relativamente normal, enquanto a maior parte dos alimentos tinha agora um aspecto terrivelmente anormal.
Deparava-se com dificuldades e angústias de praticamente todos os géneros na sua vida diária (...). A mulher tinha que lhe escolher a roupa, e esta dependência era­-lhe difícil de suportar; mais tarde passou a ter tudo classificado nas gavetas e no armário - peúgas cinzentas aqui, amarelas ali, gravatas identificadas, casacos e fatos devidamente marcados para evitar incon­gruências evidentes e confusões. À mesa tiveram que adoptar práticas e posições fixas e rituais, sem o que ele poderia ser levado a confundir mostarda com maio­nese, ou "ketchup" com compota. (...) Jonathan I. já não conseguia ir a museus ou a galerias, nem ver reproduções a cores dos seus quadros favoritos. (...)
Quando pedimos a Jonathan para exami­nar e pintar uma cópia de um espectro colorido, apenas conseguiu ver o preto e o branco e várias sombras de cinzento, e pin­tou o que via. Intrigantemente, a sua per­cepção do espectro não se assemelhava em nada à das pessoas com cegueira das cores provocada por problemas de retina. (...)
Foi esta a história que obtivemos de Jona­than I. - a história do colapso abrupto e total da sua visão da cor, e as tentativas que fez para viver num mundo a preto e branco; uma história incompatível com qualquer problema inato ou degenerativo dos olhos, mas indicativo de um súbito desarranjo nas partes do cérebro necessárias à representa­ção interna - o ver - das cores. (...)
O interesse científico de todas estas per­turbações cerebrais perceptivas adquiri­das reside no facto de os seus distúrbios nos poderem mostrar como é que o mundo conceptual é construído. Doentes como Jonathan mostram-nos que a cor não é um dado, antes é percepcionada graças a um processo cerebral específico e extraordinariamente complexo. O mesmo se aplica às percepções do movimento, da profundidade e da forma: todas elas nos parecem fazer parte da ordem natural das coisas até vermos pacientes que as perderam, doentes que sofrem de cegueira do movimento, de cegueira da profundidade ou de cegueira da forma (agnosia visual), provocadas por lesões cerebrais altamente específicas.

Oliver Sacks e Robert Wassennan, in Jornal Público, de 27 de Setembro de 1990

20 março 2008

Colecção Grandes Pensadores do Público - Consulta aqui

O jornal Público lançou, na passada segunda-feira, uma colecção de vinte volumes sobre grandes pensadores, na maioria filósofos. Com o título «Grandes Pensadores», a colecção aborda a vida, o pensamento e a obra de cada pensador, sendo que cada livro terá mais de 300 páginas e custa 12,90 euros. O primeiro volume tem Sócrates e Platão como protagonistas. Sai sempre à Segunda-feira.
Eis o plano das edições:
1. Sócrates e Platão
2. Aristóteles
3. Séneca
4. Santo Agostinho
5. São Tomás de Aquino
6. René Descartes
7. Blaise Pascal
8. Jean-Jaques Rosseau
9. Adam Smith
10. Immanuel Kant
11. Hegel
12. John Stuart Mill
13. Charles Darwin
14. Karl Marx
15. Friedrich Nietzsche
16. Sigmund Freud
17. Ortega y Gasset
18. Karl Popper
19. Jean-Paul Sartre
20. Lévi-Strauss

06 março 2008

Argumentação, Verdade e Ser

A argumentação, além das utilidades que já estudámos, serve ainda um outro fim muito importante: serve para pôr à prova as ideias que temos e fazer avançar o conhecimento. Dada a dificuldade humana em encontrar a verdade, o confronto de ideias (argumentos) e a possibilidade de os nossos argumentos poderem ser refutados leva-nos a ter de fundamentar bem as nossas teses, logo, a ser cautelosos quanto ao que afirmamos.
É certo que nem sempre as pessoas estão interessadas em defender a verdade, seja por ignorância, seja por má vontade. E isto leva a disputas e a controvérsias que ocorreram já na Grécia antiga entre sofistas e filósofos, como se pode ver no diálogo Górgias, onde Platão põe Sócrates a discutir e ridicularizar os seus adversários de debate. E a razão dessa divergência é agora fácil de compreender: enquanto para os sofistas qualquer tese (opinião) era, em princípio defensável, para Platão só o verdadeiro conhecimento era digno de ser defendido. Para isso, era necessário que Platão tivesse uma teoria consistente sobre a verdade, o conhecimento, a realidade, etc.
Com efeito, tinha; e é uma teoria de tal modo consistente que tem sido respeitada ao longo dos séculos. Um filósofo do séc. XX, famoso matemático e colega de trabalho de Bertrand Russel, de seu nome Whitehead, disse que «a filosofia ocidental são notas de rodapé na Filosofia de Platão».
Qual é essa teoria? Resumidamente podemos dizer que a filosofia de Platão faz duas grandes distinções, correlativas uma da outra, entre o plano ontológico (ser) e o plano gnosiológico (conhecimento). Distingue, por um lado, entre a ilusão (mundo visível) e a realidade (mundo inteligível), e, por outro, entre o erro (opinião) e o conhecimento (sofia).
Segundo Platão, há vários níveis de realidade (uma sombra é menos real do que um objecto físico, e este é menos real do que uma forma pura), e uma suposição é menos «verdadeira» que uma crença; do mesmo modo, uma crença é menos verdadeira do que um conhecimento científico. Para este filósofo, a investigação começa pela recusa do mundo aparente (que é construído em nós a partir das informações fornecidas pelos sentidos), e pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais que nos permitam «ver» um mundo invisível aos sentidos: um mundo inteligível, só visível à razão. Este caminho de descoberta é simultaneamente um caminho de auto-aperfeiçoamento do indivíduo e um caminho de descoberta da realidade.O conhecimento da verdade é, afinal, o conhecimento da realidade, de tal modo que verdade e realidade acabam por ser sinónimos.
A realidade é, então, segundo Platão, formada pelas estruturas inteligíveis (racionais) da realidade, por aquilo que faz com que a matéria dos objectos obtenha uma determinada organização. Os próprios objectos, a que teríamos a tentação de chamar «reais», seriam apenas «cópias» desses modelos a que ele chamou eidos ou formas puras e só poderiam ser vistos através da clara visão da razão.
Isto não significa que Platão se desinteressasse dos assuntos mais «mundanos» da cidade onde vivia. Daí que nas suas obras encontremos muitos diálogos sobre a justiça e a organização da cidade, o melhor tipo de governo, etc. O que acontece é que as preocupações de Platão com a Política, com o Conhecimento, com a Moral, com arte, etc., tinham sempre como objectivo criar condições para a descoberta da verdade e para a prática do Bem. Para Platão, o Bem é o aperfeiçoamento dos seres humanos através do desenvolvimento da consciência e da Ciência.
Isto faz aumentar a responsabilidade do sábio: uma vez que conhece, tem também o dever de ajudar os seus irmãos humanos a libertar-se da ignorância. Platão considerava que «o rei deveria ser filósofo e o filósofo deveria ser rei» porque, acima de tudo, o governo da cidade (a política) deveria ser dirigido por pessoas sábias. É neste contexto que se devem tentar compreender as discussões sobre a retórica, e as críticas que Platão dirigiu aos sofistas, pois, para ele, nem todas as opiniões são defensáveis, e a argumentação deve estar ao serviço de um ideal mais elevado, fundamentado num conhecimento verdadeiro do que é a realidade e de quais são os fins que dão sentido à existência humana.
É também por isso que Platão é um autor que ainda hoje pode ajudar-nos a pensar em que sentido e para que fins devemos nós, humanos do séc. XXI, utilizar a técnica e a Ciência.

705 Azul, Vários autores, Texto Editora

27 fevereiro 2008

Em defesa da Diversidade Cultural na Europa - Clique aqui

Texto do Projecto de Recomendação dos deputados do Externato Infante D. Henrique, submetido ao Concurso Parlamento dos Jovens, e vencedor da sessão distrital (Braga).
Trabalho realizado no contexto da disciplina de Filosofia (no âmbito da unidade "Argumentação e Retórica").
Na foto as deputadas Elsa Rodrigues, Catarina Conde e Sílvia Vieira
(eleita porta-voz do círculo de Braga)

26 fevereiro 2008

I Jornadas da Comunicação sobre o Jornal Escolar - Inscrições gratuitas

“Jornal Escolar - o poder da imprensa escrita na escola”

Local: EXTERNATO INFANTE D. HENRIQUE RUÍLHE - BRAGA
Data: 5 Março 2008

Inscrições gratuitas através de mail: participo@alfacoop.pt ou

fax: 253 951701 Tel.253 959000





Programa:
1. Sessão formativa para professores (e alunos de clubes de Jornalismo)
Jornal Escolar: “O poder da imprensa escrita na escola”- 14:30 horas Com:


Dr. Eduardo Jorge Madureira
Responsável pelo projecto "O PÚBLICO na Escola"

Doutora Felisbela Lopes
Investigadora, Professora de cadeiras de Jornalismo na Universidade do Minho desde 1995
Directora do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho
Doutoramento em Informação Televisiva e Mestrado em Jornalismo
Autora de vários livros, comentadora da RTP

Como planificar? Que conteúdos?
O papel do jornal da escola na dinamização e articulação do processo de ensino-aprendizagem;
O Jornal da Escola e a Comunicação interna e externa;
A apresentação gráfica do jornal escolar;
O Envolvimento da comunidade no jornal escolar;
A importância da imprensa escrita na formação sócio-cultural do aluno;
A utilização da imprensa escrita no processo ensino-aprendizagem.

2. Mesa Redonda: Jornalismo escolar – Bons exemplos, boas práticas - Escolas convidadas falam sobre o seu jornal escolar.

- O projecto de Jornalismo Escolar do Jornal Cidade Hoje

OBJECTIVOS
Estimular a prática de um jornalismo escolar crítico e imaginativo;
Contribuir para a educação para um uso crítico dos Media;
Desenvolver competências sócio-culturais do aluno.
Contactar com profissionais da Comunicação Social.
Aprender a utilizar o jornal escolar como instrumento do processo de ensino-aprendizagem.
Aprender a utilizar o jornal escolar como instrumento de comunicação interna e externa.

12 fevereiro 2008

Hierarquizar valores

Não sei se tens lido muito a Bíblia. Está cheia de coisas interessan­tes e não é preciso ser-se muito religioso - bem sabes que o sou muito pouco - para as apreciar. No primeiro dos livros da Bíblia, o Génesis, conta-se a história de Esaú e Jacob, filhos de Isaac. Eram irmãos gémeos, mas Esaú fora o primeiro a sair do ventre da mãe, o que lhe concedia o direito de primogenitura: ser primogénito naqueles tempos não era coisa de somenos importância, porque significava a sorte de se herdarem todas as posses e privilégios do pai. Esaú gostava de ir à caça e de andar em busca de aventuras, enquanto Jacob preferia ficar em casa, confeccionando de quando em vez algumas delícias culinári­as. Um dia, Esaú voltou do campo cansado e faminto. Jacob preparara um suculento guisado de lentilhas, e o irmão, só de sentir o aroma do cozinhado, ficou cheio de água na boca. Apeteceu-lhe intensamente comer aquele prato e pediu a Jacob que o convidasse. O irmão cozi­nheiro disse-lhe que o faria com muito gosto, mas não grátis, antes, em troca do direito de primogenitura. Esaú pensou: «Agora o que me apetece são as lentilhas. A herança do meu pai é para daqui a muito tempo. Quem sabe? Talvez eu morra até antes dele!» E acedeu a trocar os seus futuros direitos de primogénito pelas saborosas lenti­lhas do presente. Deviam ter um cheiro esplêndido aquelas lentilhas!
Não é preciso dizer-te que mais tarde, com a pança já cheia, Esaú se arrependeu do mau negócio que tinha feito, o que provocou bastantes problemas entre os dois irmãos.
Esaú queria as lentilhas, esforçou-se por consegui-las e no fim ficou sem a herança. Belo resultado!» Sim, claro, mas... seriam as lentilhas o que Esaú queria deveras, ou não passavam do que lhe apetecia naquele momento? Afinal de contas, ser o primogénito era então uma coisa muito vantajosa, enquanto as lentilhas, bem vês: se quiseres comes, se quiseres deixas de parte... É lógico pensar que aquilo que Esaú, no fundo, queria era a primogenitura, um direito que prometia tomar-lhe a vida muito melhor dentro de um prazo mais ou menos curto. Evidente­mente, também lhe apetecia comer o guisado, mas, se se tivesse dado ao trabalho de pensar um bocadinho, ter-se-ia dado conta de que esse segundo desejo poderia esperar um pouco, sem que ele tivesse de comprometer as suas possibilidades de conseguir o fundamental.
Nós, seres humanos, queremos às vezes coisas contraditórias, que entram em conflito umas com as outras. É importante sermos capazes de estabelecer prioridades e de impor uma certa hierarquia entre o que me apetece no imediato e aquilo que, no fundo, a longo prazo, quero. Quem o não perceber à primeira, pode perguntar a Esaú...
Apetecem-te com certeza muitas coisas, amiúde contraditórias, como acontece com toda a gente: queres ter uma moto mas não queres partir a cabeça no asfalto, queres ter amigos mas sem perderes a tua independência, queres ter dinheiro mas não queres sujeitar-te ao próximo para o conseguires, queres saber coisas, e por isso compreendes que é preciso estudar, mas também queres divertir-te, queres que eu não te chateie e te deixe viver à tua maneira, mas também que esteja presente para te ajudar quando necessitas disso, etc. Numa palavra, se tivesses que resumir tudo isto e pôr sinceramente em palavras o teu desejo global e mais profundo, dir-me-ias: «olha, pai, o que eu quero é ter uma vida boa.» Bravo! O prémio para este senhor!
O que é bom é usarmos os prazeres, ou seja, termos sempre certo controlo sobre eles, não lhes permitindo que se voltem contra o mais que forma a tua existência pessoal. Lembra-te de como há umas largas páginas atrás, a propósito de Esaú e das suas lentilhas, falámos da complexidade da vida e de como era recomendável, para a vivermos bem, não a simplificarmos em excesso. O prazer é muito agradável, mas tem uma aborrecida tendência para a exclusividade: se te entregares a ele com demasiada generosidade, ele é muito capaz de te deixar sem nada a pretexto de te satisfazer. Usar os prazeres, como diz Montaigne, é não permitir que qualquer deles apague a possibilidade de todos os outros.

Ética para um Jovem, Fernando Savater, Gradiva
(pags. 55,56 e 105)

06 fevereiro 2008

Grandes Filósofos - Bertrand Russell

Filósofo e ensaísta inglês nascido em 1872 e falecido em 1970. Órfão aos 4 anos e nascido numa família da alta aristocracia, de tradições liberais, foi educado num ambiente austero e puritano. No entanto, muito jovem se tornou ateu. Após 16 anos de um casamento pouco feliz, teve uma vida sentimental muito agitada. Preso em 1916 por propaganda pacifista, é despedido do Trinity College, de Cambridge, onde é readmitido em 1944. Já em 1940 tinha sido expulso do Citty College de Nova Iorque pelas sua posições não conformistas. Entre 1898 e 1913 Russel realiza uma obra excepcional no domínio da Lógica e da Matemática. A partir de 1914 a parte mais valiosa da obra de Russell é constituída por trabalhos sobre a teoria do conhecimento. Chegou a interessar-se pelo marxismo, mas depois de uma viagem que realizou à Rússia em 1920 passou a combatê-lo e defendeu a conciliação entre a liberdade e a ordem e a paz entre as nações. Foi prémio Nobel da Literatura em 1950.

Adaptado de Enciclopédia “Logos”

21 janeiro 2008

Filosofia - Escola de Liberdade, segundo a UNESCO. Consulte aqui!

O documento/livro da Unesco "Philosophy, a school of liberty – teaching philosophy and learn to philosophise" pode ser consultado on line. Em 303 páginas o livro-documento relata o esforço de vários países quanto ao ensino de filosofia em todos os graus e níveis. Fornece também um quadro geral sobre o que se tem feito no ensino de filosofia para crianças e para jovens, e mostra o estado actual da articulação desse ensino com a universidade. Além disso, o documento apresenta estatísticas sobre o ensino da filosofia no mundo.

20 janeiro 2008

Elementos Básicos de Filosofia - Vale a pena ler! Clica aqui


Argumentação, Verdade e Ser

A argumentação, além das utilidades que já estudámos, serve ainda um outro fim muito importante: serve para pôr à prova as ideias que temos e fazer avançar o conhecimento. Dada a dificuldade humana em encontrar a verdade, o confronto de ideias (argumentos) e a possibilidade de os nossos argumentos poderem ser refutados leva-nos a ter de fundamentar bem as nossas teses, logo, a ser cautelosos quanto ao que afirmamos.
É certo que nem sempre as pessoas estão interessadas em defender a verdade, seja por ignorância, seja por má vontade. E isto leva a disputas e a controvérsias que ocorreram já na Grécia antiga entre sofistas e filósofos, como se pode ver no diálogo Górgias, onde Platão põe Sócrates a discutir e ridicularizar os seus adversários de debate. E a razão dessa divergência é agora fácil de compreender: enquanto para os sofistas qualquer tese (opinião) era, em princípio defensável, para Platão só o verdadeiro conhecimento era digno de ser defendido. Para isso, era necessário que Platão tivesse uma teoria consistente sobre a verdade, o conhecimento, a realidade, etc. Com efeito, tinha; e é uma teoria de tal modo consistente que tem sido respeitada ao longo dos séculos. Um filósofo do séc. XX, famoso matemático e colega de trabalho de Bertrand Russel, de seu nome Whitehead, disse que «a filosofia ocidental são notas de rodapé na Filosofia de Platão».
Qual é essa teoria? Resumidamente podemos dizer que a filosofia de Platão faz duas grandes distinções, correlativas uma da outra, entre o plano ontológico (ser) e o plano gnosiológico (conhecimento). Distingue, por um lado, entre a ilusão (mundo visível) e a realidade (mundo inteligível), e, por outro, entre o erro (opinião) e o conhecimento (sofia).
Segundo Platão, há vários níveis de realidade (uma sombra é menos real do que um objecto físico, e este é menos real do que uma forma pura), e uma suposição é menos «verdadeira» que uma crença; do mesmo modo, uma crença é menos verdadeira do que um conhecimento científico. Para este filósofo, a investigação começa pela recusa do mundo aparente (que é construído em nós a partir das informações fornecidas pelos sentidos), e pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais que nos permitam «ver» um mundo invisível aos sentidos: um mundo inteligível, só visível à razão. Este caminho de descoberta é simultaneamente um caminho de auto-aperfeiçoamento do indivíduo e um caminho de descoberta da realidade.O conhecimento da verdade é, afinal, o conhecimento da realidade, de tal modo que verdade e realidade acabam por ser sinónimos.
A realidade é, então, segundo Platão, formada pelas estruturas inteligíveis (racionais) da realidade, por aquilo que faz com que a matéria dos objectos obtenha uma determinada organização. Os próprios objectos, a que teríamos a tentação de chamar «reais», seriam apenas «cópias» desses modelos a que ele chamou eidos ou formas puras e só poderiam ser vistos através da clara visão da razão.
Isto não significa que Platão se desinteressasse dos assuntos mais «mundanos» da cidade onde vivia. Daí que nas suas obras encontremos muitos diálogos sobre a justiça e a organização da cidade, o melhor tipo de governo, etc. O que acontece é que as preocupações de Platão com a Política, com o Conhecimento, com a Moral, com arte, etc., tinham sempre como objectivo criar condições para a descoberta da verdade e para a prática do Bem. Para Platão, o Bem é o aperfeiçoamento dos seres humanos através do desenvolvimento da consciência e da Ciência.
Isto faz aumentar a responsabilidade do sábio: uma vez que conhece, tem também o dever de ajudar os seus irmãos humanos a libertar-se da ignorância. Platão considerava que «o rei deveria ser filósofo e o filósofo deveria ser rei» porque, acima de tudo, o governo da cidade (a política) deveria ser dirigido por pessoas sábias. É neste contexto que se devem tentar compreender as discussões sobre a retórica, e as críticas que Platão dirigiu aos sofistas, pois, para ele, nem todas as opiniões são defensáveis, e a argumentação deve estar ao serviço de um ideal mais elevado, fundamentado num conhecimento verdadeiro do que é a realidade e de quais são os fins que dão sentido à existência humana.
É também por isso que Platão é um autor que ainda hoje pode ajudar-nos a pensar em que sentido e para que fins devemos nós, humanos do séc. XXI, utilizar a técnica e a Ciência.
705 Azul, Vários autores, Texto Editora

Programação das AULAS DE FILOSOFIA - RTP Madeira com o Prof. Rolando Almeida

Podes aceder às aulas de Filosofia da RTP Madeira, lecionadas pelo Prof. Rolando Almeida (na foto), acedendo aos links abaixo.  TELENSINO (R...