27 janeiro 2012

Sistema de valores racional

Um sistema de valores é "racional" — e, nessa medida, digno de respeito — caso se baseie numa correcta compreensão dos factos e numa preocupação em considerar todas as pessoas de igual modo. O nazismo, a escravatura, a segregação racial são irracionais — têm a ignorância como único fundamento ou constituem violações da exigência de imparcialidade para com os nossos semelhantes.

Harry Gensler

Extraído daqui


O que é a moral?

O que é a moral? É o conjunto das coisas a que um indivíduo se obriga ou que proíbe a si mesmo, não para aumentar a sua felicidade ou o seu bem estar, o que não passaria de egoísmo, mas para levar em conta os interesses ou os direitos do outro, para não ser um malvado, para permanecer fiel a uma certa ideia da humanidade e de si. A moral responde à questão Que devo fazer? — é o conjunto dos meus deveres, ou seja, dos imperativos que reconheço como legítimos —- mesmo que, como qualquer pessoa, ocasionalmente os viole. É a lei que imponho a mim mesmo, ou que deveria impor-me, independentemente do olhar do outro e de qualquer sanção ou recompensa esperadas.

COMTE-SPONVILLE, André - Dictionnaire philosophique

Como responder à diversidade cultural entre sociedades?


Ana rejeita a atitude dogmática do género “Nós estamos certos e eles errados”. Percebe a necessidade de compreender as sociedades. Estas são ideias positivas. Mas, em seguida, afirma também que nenhum dos lados pode estar errado. Isto limita a nossa capacidade para aprender. Se a nossa cultura não pode estar errada, não pode aprender com os seus próprios erros. Compreender as normas de outras culturas não permitirá ajudar-nos a corrigir os erros (…) [da nossa cultura, uma vez que esta não está errada (ou certa)]. Ana rejeita a crença em valores objectivos e chama-lhe o “mito da objectividade”. Nesta perspectiva, as coisas são um bem ou mal apenas relativamente a esta ou àquela cultura. Não são objectivamente boas ou más, como Kant pensava. Mas será [a objectividade dos valores] realmente um “mito”? O ponto de vista objectivista [ou essencialista] afirma que algumas coisas são objectivamente um bem ou um mal, independentemente do que possamos pensar ou sentir; contudo, esta perspectiva está preparada para aceitar algum relativismo noutras áreas. Muitas regras sociais são claramente determinadas por padrões locais: Regra local: “É proibido virar à direita com a luz vermelha”. Regra de etiqueta local: “Use o garfo apenas com a mão esquerda”.
É necessário respeitar este género de regras locais; ao proceder de outra maneira podemos ferir as pessoas, quer porque chocámos contra os seus carros, quer porque ferimos os seus sentimentos. Na concepção objectivista, a exigência de não magoar as outras pessoas é uma regra de um género diferente – uma regra moral – não determinada por costumes locais. Considera-se que as regras morais possuem mais autoridade do que as leis governamentais ou as regras de etiqueta; são regras que qualquer sociedade deve respeitar se quiser sobreviver e prosperar. Se visitarmos um lugar cujos padrões permitem magoar as pessoas (…), então esses padrões estão errados. O relativismo cultural disputa [discorda] esta afirmação. A ideia é que os padrões locais são determinantes, ainda que se trate de princípios morais básicos; assim, ferir outras pessoas (…) é um bem se esta atitude for socialmente aprovada. Respeitar as diferenças culturais não nos transforma em relativistas culturais. Este é um falso estereótipo. O que caracteriza o relativismo cultural é a afirmação de que tudo o que é socialmente aprovado é um bem”.
(Texto adaptado) Harry Gensler, Ética e Relativismo Cultural

12 janeiro 2012

Estamos determinados pelos acontecimentos anteriores?

Segundo o determinismo radical, o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo, isto é, se tudo está causalmente determinado não temos livre-arbítrio (capacidade de escolher em liberdade). Como tudo está determinado, o livre-arbítrio não existe. Sendo assim, perante determinada situação, e caso os acontecimentos anteriores não se alterem, não podemos agir de modo diferente daquele que agimos, isto é o mesmo que afirmar que, dada uma certa cadeia causal, o seu efeito não pode ser diferente do que é. O determinista radical define “estar causalmente determinado” como a impossibilidade de alguém poder decidir e querer algo diferente daquilo que efectivamente decidiu. Assim, para o determinista radical a liberdade é uma mera ilusão, pois, por vezes temos a falsa sensação de liberdade porque fazemos aquilo que queremos sem que ninguém nos impeça de fazê-lo, não conhecendo as verdadeiras causas que motivaram essa acção. Contudo, existem histórias de vida que provam a existência da liberdade e que nem sempre somos constrangidos por acontecimentos anteriores, ou seja, nem sempre o nosso passado nos impede de chegar onde queremos, basta saber usar corretamente a nossa liberdade…

A história de Nick é um óptimo exemplo “disso” mesmo. Nick teve a infelicidade de nascer sem membros (superiores e inferiores), estando à partida, determinado a tornar-se uma pessoa incapacitada para o resto da sua vida. Contudo, ele conseguiu provar que ninguém está determinado pelo seu passado, pois, caso isso fosse verdade, atualmente Nick não faria aquilo que faz (note-se que os acontecimentos passados mantiveram-se os mesmos) como: jogar à bola, surfar, pentear o cabelo, lavar os dentes entre outras tarefas. As quais, analisando os acontecimentos antecedentes (o facto de ter nascido sem extremidades), seriam impossíveis de ser concretizadas. Porém, Nick, soube usar eficientemente a sua liberdade e construir o seu próprio projecto de vida, encargo esse que foi verdadeiramente condicionado pelo seu passado, mas não impedido. Nick não se limitou a ficar parado, pelo contrário, decidiu lutar contra os obstáculos que a vida lhe proporcionou, mostrando que o livre- arbítrio, isto é, esta capacidade de decidir em liberdade existe mesmo, não sendo apenas uma mera ilusão como o determinista radical defende. Liberdade essa que quando utilizada correctamente/com inteligência (tal como Nick fez), só nos favorecerá…

(Texto e Vídeo sugerido por Cristina Coelho-10ºB)

O teu tempo é limitado!



“O teu tempo é limitado, por isso não o gastes a viver a vida de outra pessoa. Não caias na armadilha do dogma, que é viver de acordo com os resultados do pensamento de outras pessoas. Não deixes que o barulho criado pela opinião dos outros silencie a tua voz interior. E, acima de tudo, tem a coragem de seguir o teu coração, a tua intuição.”
Steve Jobs (fundador da Apple)

Somos tão livres como um computador?


O problema acerca da existência da liberdade humana pode ser apresentado numa formulação preliminar. As nossas crenças e desejos, e portanto, o nosso comportamento, são causados por coisas fora do nosso controlo. Não escolhemos livremente os nossos genes nem a sequência de ambientes em que crescemos. Se não os escolhemos livremente, porquê dizer que o nosso comportamento é o resultado de uma escolha livre da nossa parte? Como podemos ser responsáveis por ações causadas por acontecimentos (que tiveram lugar há muito tempo) sobre os quais não exercemos qualquer controlo? Aparentemente, somos tão livres como um computador: um computador comporta-se como o faz porque foi programado para isso.

Elliott Sober, Tradução de Paulo Ruas
Core Questions in Philosophy

Programação das AULAS DE FILOSOFIA - RTP Madeira com o Prof. Rolando Almeida

Podes aceder às aulas de Filosofia da RTP Madeira, lecionadas pelo Prof. Rolando Almeida (na foto), acedendo aos links abaixo.  TELENSINO (R...