26 maio 2010

"Na arte o que importa é fazer passar uma ideia"

Baltazar Torres é um dos artistas que surgiram na década de 90. A pouco e pouco as suas obras, que combinam pintura escultura e instalação, foram-se impondo e internacionalizando, apesar de percorrer um caminho solitário e independente. É professor na Faculdade de Belas Artes do Porto e na Universidade Católica, também no Porto. Colaboram consigo diariamente no seu atelier alguns dos seus ex-alunos.

Quando concebe ou realiza uma obra, fá-lo a pensar em quê ou em quem? No público em geral, num público especializado, em si próprio?
Penso só no público especializado, que poderá aceitar melhor ou pior a investigação plástica por mim desenvolvida nas peças apresentadas.
Isso significa que se submete ao que pensa ser a opinião dos seus pares?
Significa que só se pode trabalhar para um público conhecedor. Eu não posso pensar que vou fazer uma exposição para um público que desconheça a arte contemporânea e as suas implicações sociais. Para nos entendermos com alguém, temos de falar uma língua comum.
Não concorda, então, com os que encaram a arte como uma espécie de linguagem universal?
Bom, a arte pode ser entendida por qualquer pessoa de qualquer parte do mundo, desde que haja uma compatibilidade cultural com o universo em que se insere o objecto observado.
Acha que a arte, nomeadamente a sua, é ou deve ser enquadrada por algum conceito de beleza?
Não. Ela pode ser atraente, mas pode também ser visualmente desagradável. Aquilo que mais importa é fazer passar um conceito, uma ideia, através de formas que possam ser adequadamente interpretadas.
Procura exprimir algum tipo de emoção através das suas obras?
As obras são sempre feitas de emoção e razão. Por exemplo, as obras de Mondrian são estruturalmente racionais, mas quando observadas ao pormenor vemos películas e velaturas de carácter emotivo. Não existem linhas rectas nos quadros de Mondrian, ao contrário do que muita gente pensa. São linhas com muitas rebarbas, imprecisões e hesitações. No meu trabalho não posso quantificar o grau de emoção e de razão, na medida em que estes dois aspectos são variáveis em intensidade. Nuns casos deixo que a razão se sobreponha ao aspecto emocional; noutros acontece o contrário.
O que acha que as pessoas podem encontrar nas suas obras? Há alguma intencionalidade nelas?
Há intencionalidade nelas. Para haver comunicação, a arte tem que dizer algo. A comunicação pode ser meramente visual, formal, conceptual, etc., mas é sempre comunicação. Compreender o que diz é compreender a obra de arte.
A arte serve para alguma coisa?
Serve para muitas coisas. Serve para expressar ideias, desenvolver conhecimentos, mudar os outros. Mas também é uma mercadoria que pode servir apenas como investimento, como paixão ou como divertimento. Até como forma de poder.
Mas acha que deveria mesmo servir para isso tudo?
Sim. Salvador Dali dizia que uma obra de arte é útil para taparmos uma fissura de uma parede da casa. Por que não?
Acha que a apreciação das obras de arte é apenas uma questão de gostos pessoais?
É uma questão de gostos pessoais mas, sobretudo, de gostos institucionais. Estabelecendo uma analogia com o caso da moda, também aí os gostos pessoais se baseiam em critérios que o chamado mundo da moda estabelece. No caso da arte é o mundo da arte.
Acha que qualquer coisa pode ser arte?
Acho que sim, desde que, embebida de um sentido artístico.
E como sabemos que está embebida de um sentido artístico?
É porque é concebida ou feita com esse fim, no contexto adequado.

Este é apenas um excerto da entrevista realizada por Aires Almeida retirada daqui.

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