08 fevereiro 2007

Ainda a propósito de Valores e Cultura...

«Quando vivi na Guiné, dois colegas meus fizeram um trabalho de campo sobre um fenómeno muito comum em África e que costuma ser designado por infanticídio étnico. Trata-se de matar as crianças que nascem com problemas de saúde. Na Guiné, em regra, quando se detecta um problema (ou um suposto problema, atendendo à inexistência de conhecimentos das pessoas) a mãe e as outras mulheres da família colocam o bébé na margem do rio e deixam-no lá. Ao outro dia vão ver se ainda lá está (na Guiné, por causa da força do mar, os rios têm marés). Se estiver é porque não tem mau espírito, se não estiver, confirma-se o acertado da decisão.Quando os meus colegas interrogavam as pessoas sobre os seus sentimentos ao deixarem os filhos à mercê da água a resposta era sempre a mesma: não é um filho: é um “có” (um espírito mau) disfarçado de filho/pessoa. Por isso não havia qualquer problema em eliminá-lo. Pelo contrário: era um dever. De acordo com as tradições deles, se o có não fosse eliminado, a primeira pessoa contra a qual ele se voltaria seria a mãe. Os meus colegas diziam, inclusivamente, que os guineenses não usavam palavras como “filho”, “bébé”, “criança”, “pessoa”, ... para significar o có.»

História citada por Paulo Lagoinha
Forum "Arte de Pensar"

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